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Home Notícias 34ª Bienal – Fôlder Neo Muyanga

1 jan 2010

34ª Bienal – Fôlder Neo Muyanga

Cegueira sublime

Neo Muyanga faz entoar sons de um tempo presente enraizado na violência e nutrido pela revolta. A pesquisa de Muyanga acerca de diversas sonoridades que compõem a história da canção no contexto pan-africano e diaspórico o levou à intricada história do hino cristão “Amazing Grace” [Graça sublime], escrito pelo inglês John Newton, em 1772. São os paradoxos da história dessa canção que reverberam em seu novo trabalho, que se desdobra em três momentos: a performance de 8 de fevereiro de 2020, que dá início ao programa da 34a Bienal de São Paulo; a performance que, em julho, abrirá a 11a Bienal de Liverpool; e a instalação audiovisual que integrará a mostra coletiva da Bienal em setembro. Composta a partir de seu país, a África do Sul, essa obra pluriforme religa os vértices do chamado triângulo do Atlântico.

“Amazing Grace” é uma canção agregadora e afetiva. A alegoria de superação e de salvação nela presente ancora-se no imaginário cristão, mas se expande como um abrangente clamor por união e empatia. Especialmente em países que falam majoritariamente a língua inglesa, esse hino é sempre retomado após o acontecimento de grandes tragédias. De modo amplo, também, ela é associada à música negra e a narrativas da luta abolicionista e dos movimentos que a ela se seguiram.  Uma das suas interpretações mais conhecidas é a da cantora estadunidense Aretha Franklin, realizada

em uma igreja batista no ano de 1972 — que resultou no álbum gospel mais vendido de todos os tempos. E uma de suas recentes interpretações carregadas de simbolismo foi a do presidente Barack Obama durante a elegia para o reverendo Clementa Pinckney, após um tiroteio em uma igreja da comunidade negra em Charleston, na Carolina do Sul, em 2015, que resultou nove mortos.

Pouco se fala, porém, do autor dessa canção. A maior parte das menções a ele limita-se a dizer que John Newton foi um pastor anglicano abolicionista. Por vezes, essa informação recebe o adendo romanceado de que Newton foi um libertino e um escravagista que passou por uma “iluminação” divina que fez dele um defensor da liberdade dos escravizados. Como resume Muyanga, as coisas não são tão simples:

“John Newton foi um filho de Liverpool e pecador assumido – era um sem caráter e escravizador, atuante no tráfi co de negros que eram abduzidos de suas casas na costa oeste da África e levados pelo Atlântico para o ‘novo mundo’, incluindo o Brasil e outras partes da América. Em seus escritos, Newton declara que chegou à epifania por meio da qual compôs ‘Amazing Grace’ após intuir que a mão invisível de Deus lhe permitira ‘sobreviver’ a uma série de experiências que quase o levaram à morte – disenteria, malária e fome (nas mãos de uma cruel senhora ‘mulata’ em uma fazenda escravagista) em Serra Leoa; um tiro na cabeça durante uma parada breve no Brasil; e duas semanas em que foi violentamente atacado por gigantescas tempestades em pleno oceano Atlântico (enquanto tentava navegar de volta para a Inglaterra).”

Não apenas o autor de uma das mais eloquentes canções de união associadas à história da luta e da música negra foi um branco escravagista, como sua popularização ao longo do século 19 provavelmente muito se deva aos interesses econômicos da política neocolonial britânica, que então pressionava países como o Brasil para abolir a escravidão. Isso não necessariamente diminui seu potencial como veículo de agregação, mas posiciona essa canção num campo de disputas. Assim, por exemplo, um dos versos mais sublimes da composição revela sua faceta cínica: “was blind but now I see” (era cego, mas agora vejo) — afinal, quem pode ter sido verdadeiramente cego ao crime da escravidão?

Muyanga subverte a canção original, mobilizando múltiplas presenças para reivindicar sua complexidade entre crueldades e compaixões. Nessa performance, o vão central do Pavilhão da Bienal é relido como uma espécie de embarcação oca, seu escultórico pilar transmutado em um mastro. Ali, cantos e corpos perfazem uma composição de contrapontos que gradualmente engloba o público e compõe uma procissão. As projeções animadas apresentam cartografi as pesquisadas e redesenhadas por Muyanga; ele também compõe e conduz um novo arranjo que traz à tona sonoridades originárias dos territórios nos quais se vivenciou a história transatlântica da diáspora negra. E assim, no escuro da história, reemerge um canto de revolta que não pode e não vai se calar.

Paulo Miyada

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