Inaugurado em 1982, o edifício do Centro Cultural São Paulo (CCSP) instiga de múltiplas formas a sensibilidade arquitetônica de seus usuários. Incrustado no talude de uma importante avenida de fundo de vale da cidade, ele se integra à paisagem sem sobrepô-la, podendo até passar despercebido por quem trafega pela via expressa. No entanto, um olhar atento percebe o concreto da cobertura e das sustentações do jardim, desvelando ali a presença de um edifício. De um vazio residual derivado da implantação de infraestruturas urbanas metropolitanas – avenida e metrô – a edifício público de excelência, o Centro Cultural demonstra a potência da arquitetura na transformação da cidade e das experiências coletivas. O acesso central faz-se por uma descida a partir da própria continuidade da calçada, inclinando-se ao encontro da rua interna que organiza o edifício. A ideia é a instalação de planos longilíneos que acompanham a forma do talude criado a partir da adequação às suas curvas sutis da topografia do talude existente. A partir da infraestrutura herdada, rampas entrecruzadas unem os vários níveis, permitindo interconexão visual entre os espaços. Elas se apoiam em pilares e vigas metálicas que nascem do solo com formato de árvore, mimetizando o próprio jardim de espécies da mata atlântica mantido em meio a esses planos de concreto. Da rua interna, avista-se uma parede inclinada revestida de tijolos de barro, remarcando a presença inequívoca do talude. O Centro Cultural devolve o talude à cidade como espaço vivo e vivenciado em escala metropolitana. Ao longo dos seus mais de quarenta anos, com seu público cotidiano, variado e volumoso, reitera o sucesso da arquitetura que se abre às possibilidades de transformação e ressignificação dos espaços da cidade.
Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Eurico Prado Lopes, Luiz Telles
São Paulo – SP, 1979
Desenho: Jessica Duarte
Essa é uma das estratégias apresentadas no segundo ato da exposição (RE)INVENÇÃO, com curadoria de Luciana Saboia, Matheus Seco e Eder Alencar, do grupo Plano Coletivo, que ocupa o Pavilhão do Brasil durante a 19ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia. Para conferir todas as estratégias, confira a publicação digital da mostra.