A invenção da Floresta da Tijuca, ainda no século 19, dialoga com uma certa ideia de natureza que ganha centralidade na vida urbana da época. Ao longo do século, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, o paisagismo transcende a pintura para desenhar a cidade e fazer surgir os primeiros parques públicos. Obras de embelezamento urbano adornam fontes e chafarizes nas praças e jardins públicos, sublinhando os recursos naturais na cidade. Nas montanhas da Tijuca, a floresta se materializa a partir dessa mescla entre espaço público, infraestrutura e natureza autônoma. Dessa maneira, os reservatórios, para além de sua performance técnica, performam ativamente na criação de uma forma singular de espaço cívico da cidade, contribuindo para o projeto de convivência entre a metrópole e a floresta.
No caso da Floresta da Tijuca, essa operação “teatraliza” a natureza enquanto espetáculo que se reproduz à revelia de ações humanas. Os bastidores desse teatro são justamente sua dimensão infraestrutural, que media sua sobrevivência no meio urbano. Nesse sentido, os reservatórios de água localizados no conjunto de montanhas do Maciço da Tijuca são infraestruturas que, para além de sua performance técnica, colaboram para a criação da floresta enquanto parte da cidade. A Floresta que está no coração geográfico do continuum urbano do Rio de Janeiro não é um território unitário e homogêneo, mas sim o resultado de um conjunto de fragmentos que mesclam concepções diversas da noção de natureza com dispositivos de ordem infraestrutural. Essa combinação é crucial para a manutenção do ecossistema florestal e infraestrutural enquanto figura urbana central para a metrópole carioca. A proteção legal, a geografia acidentada e a importância cultural da floresta são fatores que contribuem para sua preservação no coração de uma região metropolitana de mais de 12 milhões de habitantes.
Floresta da Tijuca
Ações paisagísticas: Auguste Glaziou
Rio de Janeiro – RJ, 1869-1897
Desenho: Carolina Guida, Lucas Freitas, Victor Suarez, André Cavendish
Essa é uma das estratégias apresentadas no segundo ato da exposição (RE)INVENÇÃO, com curadoria de Luciana Saboia, Matheus Seco e Eder Alencar, do grupo Plano Coletivo, que ocupa o Pavilhão do Brasil durante a 19ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia. Para conferir todas as estratégias, confira a publicação digital da mostra.